sexta-feira, junho 13, 2008

A Vida como Liminalidade em o filme "The Terminal"

Este semestre que passou desenvolvi um trabalho juntamente com as minhas colegas de grupo, para a disciplina de Teorias da Cultura, que consistiu no visionamento do filme The Terminal, de 2004. Foi-nos proposto que após o visionamento do filme, tentássemos harmonizar algumas das cenas do filme, com algumas das teorias referentes a alguns dos autores estudados em aula. A escolha do filme assim como do tema – a vida como liminalidade – suscitou-nos muito interesse, especialmente na forma como a vida do ser humano pode ser limitada, devido a questões políticas, económicas e sociais vigentes.

Este é um filme bastante conhecido, que já tem passado algumas vezes na televisão, contudo quando o visionamos não o relacionamos imediatamente a determinadas teorias e a determinados autores. Achei interessante partilhar algumas ideias que concluímos e alguns dos autores seleccionados: Pierre Bourdieu, Victor Turner e Arjun Appadurai.

Ao abordar Bourdieu, optámos por seleccionar dois ângulos de abordagem
: a forma como a violência simbólica é exercida sobre os indivíduos e o choque civilizacional entre culturas (Ocidente e Oriente). Um exemplo muito ilustrativo da violência simbólica ocorre no momento em que o personagem principal - Viktor Navorski (Tom Hanks) - tenta entrar nos EUA, e lhe é negada a entrada por parte das autoridade policiais, uma vez que o seu passaporte está inválido.

Em segundo lugar surge-nos Victor Turner que nos remete para os ritos de passagem existentes na vida de um s
er humano. Destacarei essencialmente a fase intitulada de Marginalização. No que concerne à Marginalização, esta engloba o processo de liminalidade, isto é, o indivíduo ao passar por diversas fases perde a sua identidade, contudo não é marginal, mas também não tem uma posição nem espaço social definido. Tal como se passa no filme, Viktor Navorski, passa a ser um "cidadão sem terra", isto é, como o golpe militar no seu país natal - Krakozhia - os cidadãos deste país deixam de ter nacionalidade ou estatuto reconhecido pelos demais países. Assim, "não tem estatuto de exilado, refugiado, nem protecção de auxílio humanitário, pedido de emprego temporário ou visto diplomático (...) é simplesmente inaceitável, tecnicamente não existe".

E por último, a visão do antropólogo Arjun Appadurai que nos incute a
ideia de que cada vez mais, o mundo em que vivemos parece mais pequeno aos nossos olhos, isto porque, diariamente nos cruzamos com pessoas das mais variadas culturas, os próprios produtos que compramos provêm dos mais variados locais , e até a comida que consumimos e os filmes que vemos chegam de outros países. Podemos então dizer que vivemos numa sociedade globalizada. Appadurai ao analisar a actualidade, em especial, esta época de globalização em que vivemos, destaca dois grandes pilares: a importância dos mass media e o fenómeno de migração de massas. Avultando a influência e importância dos mass media no fenómeno de globalização, e remetendo ao filme, os televisores existentes no aeroporto JFK foram um forte contributo para que Viktor Navorski tivesse conhecimento daquilo que se estava a passar no seu país, já que Viktor não dominava o inglês não conseguindo entender o que as entidades policiais lhe comunicavam. Foi então através das imagens noticiadas pelos televisores e da legenda como o nome do seu país que conseguiu entender o que se passava na realidade, e porque é que tinha sido barrada a sua entrada nos EUA.

Por outro lado, também
é possível identificar o fenómeno de migração de massas. Contudo, dentro deste fenómeno é possível distinguir dois tipos: migração feita pelas elites e a migração feita pelas classes mais baixas em busca de melhores condições de vida. Um bom exemplo de migração elitista é Amelia, a hospedeira, personagem interpretada por Catherine Zeta-Jones, que passa a vida a comutar porque o seu trabalho assim o exige, contudo não fica durante muito tempo num só país. Outro exemplo que podemos retirar do filme, desta feita do outro tipo de migração, é o de Gupta, que está exilado do seu país por ter assassinado alguém. Encontra-se nos EUA a desempenhar funções de empregado de limpeza para escapar à pena de morte a que seria submetido se regressasse ao seu país de origem - Índia.

Espero que tenham gostado deste "apanhado" e que agora vejam o filme com outro olhar! Aceitam-se ideias e críticas!

5 comentários:

Anónimo disse...

De facto um filme parece uma coisa tão "inocente" mas afinal de contas, consciente ou inconscientemente os argumentistas até lhe implicaram um simbolismo tão carregado.

Mas sem dúvida é para reflectir:
Na aldeia global burocrata, não somos nada sem o nosso país...

Catarina disse...

Ai, Bourdieu... Tem me dado tantas dores de cabeça... :) Adorei este apanhado, também tenho que desenvolver um trabalho sobre um filme e foi bom ver que afinal aquilo que parece um trabalho complicado se pode tornar interessante...
Obrigada pelo incentivo de ver um filme e não apenas de assistir.
Beijinho

Nessy disse...

Alô Ensic;

Fico contente por ter-te motivado :)
Força nisso! Depois publica o teu trabalho, ou melhor, um "apanhado" para dar uma olhadela :)

Beijinho :)

Anónimo disse...

Sem dúvida um trabalho muito gratificante, pôr a teoria em prática :) Foi bom trabalhar com este grupo e viva o 15! Beijinhos*

Nessy disse...

Alô Sara :)

Sim, de facto foi muito interessante fazer este trabalho. A defesa do trabalho também foi fluente, e a Prof foi bastante querida connosco!

Beijinho Grande e Boas Férias :)

Que venham muitos 15, mas nas pautas :P