
Resolvi postar algo que me é bastante querido. Adoro este capítulo, faz-me valorizar algo, que julgo estar um pouco banalizado, - A arte de Sorrir.
E porque rir é algo maravilhoso, contagiante e brilhante...é sem dúvida um belo tema para abrir com chave de ouro este Verão, esta nova fase que se aproxima.
José Luís Martín Descalzo é o autor do texto que escolhi, ele é sacerdote, poeta, jornalista, ensaísta, repórter, romancista, autor teatral... é um ser extremamente iluminado, com um grande poder de convicção, com uma sensibilidade extraordinária para captar as inquietações da nossa época e é também portador de um profundo conhecimento da Igreja de ontem e de hoje!!! Gosto particularmente do seu registo simples e directo, por isso, apeteceu-me partilhar... e porque é bom partilhar, mesmo que seja um simples sorriso!!!
“Se eu tivesse de pedir a Deus um dom, um único dom, um presente celeste, creio que não hesitaria em pedir a suprema arte do sorriso. É o que mais invejo em algumas pessoas. É, penso eu, o cúmulo das expressões humanas.
Bem sei que há sorrisos mentirosos, irónicos, de desprezo, e até aqueles que o teatro romântico qualificava de “risos sardónicos”. É deles que dizia Shakespeare, numa das suas comédias, que “se pode matar com um sorriso”. Mas não é desses que eu estou a falar. É bem triste que até um sorriso se possa perverter. Mas não vale a pena gastar tempo a falar de podridão.
Falo, sim, dos sorrisos que se levantam de uma alma iluminada, que aparecem como o estalar de um relâmpago na noite, como o que vimos ao ver uma corça a correr, ou o que produz em nossos ouvidos o murmúrio de uma fonte num bosque solitário; ou os sorrisos que milagrosamente vemos despontar no rosto de um menino de oito meses, e que algumas pessoas – pouquíssimas! – conseguem conservar durante toda a vida.
Parece-me que o sorriso foi uma das poucas coisas que Adão e Eva conseguiram levar quando foram expulsos do paraíso. Quando vemos um rosto que sabe sorrir, temos a impressão de termos regressado do paraíso. Di-lo estupendamente Rosales quando escreve que “é certo que te podes perder dentro de certos sorrisos, como no meio de um bosque; e é certo que talvez possas viver anos e anos sem regressar de um sorriso”. Deve ser, por isso, muito fácil enamorar-nos de pessoas que possuam um bom sorriso. E que felizes são aqueles que têm um ser amado em cujo rosto desponta com frequência esse fulgor maravilhoso!
A grande questão está, porém, em saber como se consegue um sorriso. É um puro dom do céu? Ou constrói-se como uma casa? Eu suponho que é uma mistura de ambos os elementos, mas com predomínio do segundo. Uma pessoa formosa, um rosto limpo e puro, têm já meio caminho para conseguir um sorriso fulgurante. Mas todos conhecemos velhinhos e velhinhas com sorrisos fora de série. Talvez os melhores sorrisos que eu conheci sejam precisamente os das freiras idosas: madre Teresa de Calcutá, e outras menos conhecidas.
Por isso me atrevo a dizer que um bom sorriso é mais uma arte do que uma herança. Que é uma coisa a construir, pacientemente, laboriosamente.
Com quê? Com equilíbrio interior, com paz na alma, com um amor sem fronteiras. Quem ama profundamente sorri sem dificuldade. Porque o sorriso é, em primeiro lugar, uma grande fidelidade interior a nós mesmos. Um homem azedo não sabe sorrir. Muito menos um orgulhoso.
É uma arte que temos de praticar obstinada e constantemente. Não a fazer trajeitos diante de um espelho, porque o fruto desse tipo de ensaios é a máscara e não o sorriso. Aprender na vida, deixando que a alegria interior vá iluminando tudo quanto no dia a dia nos acontece, e impondo a cada uma das nossas palavras a obrigação de não chegar à boca sem ter mergulhado antes no sorriso, tal e qual como se obrigam as crianças a tomar banho antes de saírem de casa pela manhã.
Isto aprendo eu de um velho professor de oratória, que um dia nos deu a melhor das lições. Foi quando explicou que se tivéssemos de dizer num sermão ou numa conferência algo de desagradável para os ouvintes não deixássemos de o dizer, desde que nos obrigássemos a dizê-lo com um sorriso.
Naquele dia aprendi alguma coisa que me tem sido infinitamente útil: tudo se pode dizer e não há verdades proibidas. O que tem de estar proibido é de dizer a verdade com azedume, com desejo de ferir e magoar. Quando uma das nossas frases vai magoar os ouvintes não é por eles serem egoístas e não gostarem de ouvir a verdade, mas porque nós mesmos não soubemos dizê-la, porque não tivemos amor suficiente ao nosso público para pensar sete vezes na maneira de dizer essa amarga verdade, como pensamos na maneira de anunciar a um amigo a morte de sua mãe. A receita de pôr em todos os nossos coqueteiles de palavras umas gotinhas de humor sorridente costuma ser infalível.
Todo o sorriso tem alguma coisa da transparência de Deus, da grande paz. Por isso me atrevi a intitular este comentário “o sacramento do sorriso”. Porque é sinal visível de que a nossa alma está aberta de par em par. "
(Texto de José Luís Martín Descalzo)
(Fotografia: Sou mesmo eu...!!!)
8 comentários:
Muito bem. Gostei do texto.
Este Texto deixa-me a sorrir no fundo do ser...ficará conservado na minha memória e não só..aproveito para dizer: Faz-te ao largo, faz-te ao mar! :) Beijo
Rita;
Bigado pelo teu apoio miga....tens sido essencial!
Beijito
Ninho;
Espero que ainda o tenhas guardado, e que o guardes para sempre como uma boa lembrança minha!!! Obrigado pela tua amizade boa...e saudável...
Beijinho Grande
Claro que o tenho guardado, está muito bem guardadinho. É sempre bom recordar essas palavras embrulhadas em suaves cabelos, que nos suavizam a alma e libertam um Sorriso.
Beijinho!
Ninho;
Assim fico bem mais tranquila... daqui a vinte anos vou ter contigo para ver se ainda o tens...ai ai!!!!
Beijito
"...Com quê? Com equilíbrio interior, com paz na alma, com um amor sem fronteiras. Quem ama profundamente sorri sem dificuldade. Porque o sorriso é, em primeiro lugar, uma grande fidelidade interior a nós mesmos."
Este excerto é talvez o mais importante do texto - equilíbrio interior, paz na alma, uma grande fidelidade interior a nós mesmos.
Os acontecimentos negativos da vida condicionam-nos e para alguns não é fácil possuir este equilíbrio e paz interior, e consequentemente o tal sacramento do sorriso.
Acho simpático que partilhes com "nosotros" as tuas descobertas literárias, além do teu sorriso (tás diferente na foto da relva).
Para ti o meu sorriso
:)
Este texto é uma grande verdade da vida e tem tudo a ver contigo. O teu sorriso de orelha a orelha é bem demonstrativo disso. Sendo eu uma pessoa que também gosta muito de sorrir e de rir, acho que vou começar a pensar melhor nos motivos que me levam a sorrir.
Uma beijoca para ti... e com um sorriso! ;)
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